Em 1923, um teólogo de 38 anos publicava um ensaio que marcaria a história da liturgia desde então — tanto que, quase cem anos depois, o Papa Francisco retomou-o como referência fundamental ao escrever a carta apostólica Desiderio desideravi, sobre a formação litúrgica. O tema, que consta no cabeçalho do documento, remete diretamente ao texto centenário do pensador ítalo-alemão Romano Guardini (1885-1968), intitulado Formação litúrgica (Liturgische Bildung, no original alemão).
Não é o tipo “formação litúrgica” que costuma vir imediatamente à nossa mente quando ouvimos essa expressão. O livro não é uma coletânea de informações sobre a celebração dos sacramentos nem um esforço por explicar os ritos católicos — e muito menos uma série de diretrizes sobre o que se pode e o que não se pode fazer na liturgia. O interesse de Guardini, que dedicou sua vida ministerial ao acompanhamento dos jovens, era outro: entender como a liturgia pode atuar como formadora do ser humano.
Numa época em que a espiritualidade se caracterizava por um intimismo desencarnado, enquanto a liturgia era entendida como um cerimonial puramente externo associado a algumas explicações abstratas, Guardini defendeu a unidade do ser humano em sua delicada articulação entre corpo e interioridade e em sua relação com o mundo ao seu redor. Compreendeu, assim, a força da ritualidade, uma linguagem para a qual o homem moderno tinha se tornado analfabeto.
Ele estava atento, porém, aos sinais que emergiam em seu tempo — sinais de cansaço diante de modelos formativos e educacionais insuficientes, que levavam a uma existência fragmentada. Profético, Guardini vislumbrou que chegávamos a uma nova época, capaz de devolver à liturgia sua plena potencialidade como experiência que dá forma a pessoas e comunidades capazes de se relacionar com o mundo de maneira diferente.
A Carpintaria traz, pela primeira vez em português, um dos clássicos do movimento litúrgico — a grande corrente que, a partir do início do século XX, preocupou-se com a renovação da liturgia cristã e levou o Concílio Vaticano II a priorizar a questão de sua reforma e promoção. Formação litúrgica delineou a grande tarefa para a liturgia hoje: “Apoiados por essa transformação interior de nosso tempo, precisamos reaprender a habitar a relação religiosa como seres humanos por inteiro”.
Informações adicionais
Encadernação: brochura
Dimensões: 12,5 x 18 x 1,4 cm
Páginas: 228
Peso: 300g
ISBN: 978-65-998194-2-1
Ano de lançamento: 2023
Editor responsável: Felipe Sérgio Koller
Prefácio: Jerônimo Pereira
Introdução: Ângelo Cardita
Tradução: Christiane Meier
Preparação de texto: Juliana Amato
Projeto gráfico: Bruna Faccin
Capa: Luana do Valle
Ilustração de capa: Romolo Picoli Ronchetti